Janete Clair não teve último pedido atendido pela Globo: "Sabia que estava morrendo"
Autora de algumas das novelas de maior sucesso da história da televisão brasileira, Janete Clair nascia há exatamente 100 anos; saiba qual era o último desejo dela

Publicado em 25/04/2025 às 09:47
Autora de algumas das novelas de maior sucesso da história da televisão brasileira, Janete Clair nascia há exatamente 100 anos, no dia 25 de abril de 1925, em Conquista (MG).
Dona de apelidos como Usineira de Sonhos e Nossa Senhora das Oito, a novelista estreou na Globo em 1967, na famigerada Anastácia, a Mulher Sem Destino, quando criou um terremoto para eliminar a maioria dos personagens e recomeçar a trama do zero.
Ela também escreveu novelas que ficaram marcadas para sempre, como Véu de Noiva (1969), Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972), Pecado Capital (1975), O Astro (1977) e Pai Herói (1979).
No entanto, Janete morreu sem ter seu último desejo realizado pela Globo.
Despedida
Há 42 anos, em 19 de setembro de 1983, a Globo ressuscitava o horário das dez da noite para abrigar a última novela escrita pela autora.
Trata-se da esquecida Eu Prometo, que contou com nomes como Francisco Cuoco, Dina Sfat, Renée de Vielmond e então novatos, como Malu Mader e Fernanda Torres.
Sofrendo havia quatro anos com um câncer no intestino e vendo seu quadro se agravar, Janete sabia que aquela seria sua última novela. Por isso mesmo, pediu para a emissora deixá-la produzir uma história para a faixa das oito, onde se consagrou.
Mas a Globo também sabia da gravidade do estado de saúde da novelista e preferiu não arriscar. Conseguiu convencer Janete a aceitar a faixa que não era usada desde 1977, e colocou a novata Glória Perez como sua colaboradora.
Não rolou
Apesar da boa vontade da emissora, a trama infelizmente não teve a repercussão das novelas anteriores de Janete Clair.
Em foco, a crise na vitoriosa carreira política de Lucas Cantomaia (Francisco Cuoco). Apaixonado por Kelly (Renée de Vielmond), Lucas abandona a esposa, Darlene (Dina Sfat), tornando-se alvo de críticas da opinião pública e de manobras escusas de seu genro e assessor, Albano (Ney Latorraca) – que explora, inclusive, a prisão de Justo (Marcos Paulo), condenado por homicídio.
"Uma boa novela, muita garra do elenco e da equipe, apesar da morte da autora. Infelizmente a repercussão não atingiu o nível apresentado e a 'volta' do horário das dez não surtiu efeito", resumiu Ismael Fernandes no livro Memória da Telenovela Brasileira.
Eu Prometo nunca foi reprisada pela Globo e teve seus capítulos descartados posteriormente pela emissora, sendo guardados apenas seis deles, que deverão entrar futuramente no Globoplay através do Projeto Fragmentos.
"Ela sabia que estava morrendo"
Eu Prometo acabou sendo mesmo o último trabalho de Janete Clair, que morreu no dia 16 de novembro de 1983, aos 58 anos. Ela fez até o capítulo 60 da história, que foi assumida por Glória Perez, com supervisão de texto do marido da novelista, Dias Gomes.
Ao projeto Memória Globo, Glória contou que Janete trabalhou até o último minuto, mesmo estando muito debilitada.
"Ditava o capítulo que cabia a ela e eu apenas anotava. Ela sabia que estava morrendo. Como nos encontrávamos todos os dias, fui acompanhando passo a passo aquele piorar. Quando Janete achou que não chegaria ao fim da novela, ela me deu instruções de como queria que a história terminasse", explicou.
Uma justa homenagem foi feita no último capítulo da produção, exibido em 17 de fevereiro de 1984.
Foram mostradas imagens da novelista e fotos do elenco ao som da música Eternamente, cantada por Gal Costa, além de uma frase de autoria da Usineira de Sonhos, como era conhecida a autora.
"Eu gostaria que o ser humano acreditasse que existe uma força capaz de mudar sua vida. É bom confiar em si mesmo e esperar um novo amanhecer".